segunda-feira, 25 de março de 2013

Qual o valor da biodiversidade?

As bananas consistem em um alimento básico para milhões de pessoas nos trópicos e estima-se que apenas na Africa Central e Ocidental, 10 milhões de toneladas de bananas sejam produzidas por ano. Quinhentos milhões de pessoas na Ásia e na África são completamente dependentes da banana como fonte principal de calorias (Jornal da Ciência, 2003). Já no Brasil, mais de 30Kg de banana são consumidos ao ano por cada brasileiro (Toda Fruta, n.d.).

Além de ser um alimento nutritivo, as bananas e bananeiras podem ser usadas também para: fazer cerveja (sumo), alimento para animais (fruta verde e seca), anti-séptico para feridas (cascas), papel (fibras), placas, guarda-chuvas, telhas e acondicionamento de alimentos (folhas), entre outras muitas utilizações (Bryant, 1997). No Reino Unido, pesquisadores buscaram uma maneira de aproveitar os restos das bananeiras, de forma a utilizar as cascas, tronco e folhas para a produção de blocos de material orgânico combustivel.  Esses briquetes seriam utilizados em países pobres, de forma a substituir a lenha, tanto para aquecimento de residencias como para o preparo de alimentos. Apesar da sua queima emitir gases à atmosfera, o reaproveitamento dos restos da bananeira impede que novas áreas sejam desmatadas (Rothman, 2009).
Os estudos realizados por Emile Frison, chefe da Rede Internacional para o Aprimoramento da Banana (França) defende a manipulação genética pois prevê uma ameaça à banana e acredita que a mesma poderia ser extinta em 10 anos. O motivo? Falta de diversidade genética para resistir às doenças que atacam as plantações. Curiosamente, “todas as variedades da banana moderna são descendentes de uma banana mutante estéril, cultivada na Idade da Pedra”. Dessa forma, a ação de fungos que já atingem plantações na África, Ásia e nas Américas torna essa fruta vulnerável à extinção. A Doença (ou Mal) de Panamá,consiste em um fungo que se instala no solo e destrói as plantações de bananas. Há 50 anos, essa doença destrui a variedade chamada Gros Michel e no século 19, a variedade de banana descoberta pelos ingleses, a Cavendish, se mostrou resistente à Doença de Panamá, porém, está ameaçada por uma epidemia global, já que o fungo reapareceu na Ásia com outra variação (Jornal da Ciência, 2003; BBC, 2003).


Diante desse contexto, como é possível avaliar o valor da biodiversidade?
 Figura 2: Transporte de bananas na Tanzânia. (Fonte: DufeK, 2011)
Em 1798, Thomas Malthus publicou “Um ensaio sobre o Principio da População”, onde defendeu que a população humana tende a crescer geometricamente enquanto os recursos disponíveis tendem a crescer aritmeticamente. Dessa forma, a população superaria a oferta de alimentos que está disponivel para que a mesma pudesse satisfazer as suas necessidades. Em contraponto aos que consideravam ilimitada a capacidade da humanidade dominar o ambiente, há mais de 200 anos, Maulthus previu que o crescimento da população levaria à degradação da terra e consequentemente, fome, guerra e proliferação de doenças (Bryant, 1997).
 Figura 1: Thomas Malthus. (Fonte: Bleier, n.d.)
De acordo com Bryant (1997), em setembro de 1999 a população daTerra chegou a 6 bilhões de habitantes e a cada segundo, três pessoas são adicionadas no mundo diariamente, somando cerca de 87 milhões de pessoas ao ano. De acordo com Worldometers (2012), em 24 de março de 2013 a população mundial já ultrapassa 7,1 bilhões, onde mais de 902 milhões de pessoas estão subnutridas e aproximadamente 21.400 pessoas morreram por causa da fome. Por outro lado, Bryant (1997) explica que apenas uma pequena porcentagem de plantas são atualmente utilizadas para consumo humano, sendo que 90% dos alimentos vem apenas de espécies de arroz, milho e trigo. Dessa forma, além da população e os recursos crescerem de forma assimétrica, não é conhecido todo o potencial de utilização, seja para nutritição ou não, das milhares de espécies da flora e fauna existentes no mundo.
O aumento da população humana sobre a Terra ocorre de forma desigual, sendo a Africa o continente que mais cresce. Esse rápido crescimento populacional do planeta gera consequencias sociais como baixos padrões de vida, desemprego, fome, guerra civil e a destruição do meio ambiente, especialmente na forma de desmatamento. As pessoas mais ricas tendem a não se sentirem afetadas pela perda dos serviços ecossistemicos porque possuem capacidade (recursos) para adquirir  produtos substitutos ou deslocar as suas produções e colheitas para outras regiões. Por outro lado, os custos e riscos  associados à perda de biodiversidade tendem a aumentar, e a cair de forma desproporcional sobre os pobres  (Millennium, 2005). Por exemplo: o declinio das populações de peixes em uma área reflete diretamente nas comunidades que dependem da pesca, seja como fonte de proteína, seja como fonte de geração de renda.
De acordo com Millennium (2005), as pesquisas sobre os serviços ecossistemicos mostram que “apesar de muitas pessoas se beneficiam das ações e atividades que levam à perda da biodiversidade e mudanças nos ecossistemas, os custos suportados pela sociedade de tais mudanças é muitas vezes maior”, levando algumas pessoas a experimentar um declínio em matéria de bem - estar. Ainda, ressalta que as pessoas pobres, são mais diretamente dependentes da biodiversidade e dos serviços de ecossistemas e por isso, são mais vulneráveis ​​à sua degradação.
Segundo Bryant (1997), “uma das formas de identificar razões para crer em conservação da biodiversidade é olhar para o que derivam da diversidade biológica, e que nós vamos perder como resultado da extinção de espécies.” Por outro lado, muitas pessoas já reconhecem o valor intrínseco da biodiversidade, sendo que isso não pode ser avaliado em termos economicos convencionais. 

“A perda da biodiversidade é importante por si próprio porque a biodiversidade tem valores culturais, porque muitas pessoas atribuem valor intrínseco à biodiversidade, e porque ela representa opções inexploradas para o futuro” (Millennium, 2005).
Referências Bibliográficas
BBC 2003, Banana pode estar extinta em 10 anos, afirma cientista, acessado em 24 de março de 2013, http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/030116_bananacb.shtml  
Bleier R n.d., The Home Page of
The International Society of Malthus
, acessado em 24 de março de 2013,
http://desip.igc.org/malthus/ 
Bryant P J 1997, Biodiversity and conservation: a hypertext book. Peter J. Bryant.
Dufek R de G 2011,  "B" "banana" bonanza in Africa, acessado em 24 de março de 2013, http://diverbeck.blogspot.com.br/2011/01/b-banana-bonanza-in-africa.html
Jornal da Ciência 2003, Cientistas prevêem extinção da banana, acessado em 24 de março de 2013, http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=7323 
Millennium Ecosystem Assessment 2005, pp. 1-41. In Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, D.C.
Rothman P 2009, Banana seria combustível na África, acessado em 24 de março de 2013, http://info.abril.com.br/noticias/tecnologias-verdes/banana-seria-combustivel-na-africa-31102009-7.shl
Toda Fruta n.d., Normas de Classificação - Banana Musa Spp, acessado em 24 de março de 2013, http://www.todafruta.com.br/portal/icNoticiaAberta.asp?idNoticia=14865
Worldometers 2012, População Mundial e Alimentação, acessado em 24 de março de 2013, http://www.worldometers.info/br/
 


 
 

quinta-feira, 21 de março de 2013

Critérios para a Biodiversidade?


Critérios para a Biodiversidade?

Hipoteticamente, em dois ecossistemas localizados em áreas distintas há, em cada um, pelo menos uma espécie ameaçada de extinção, de acordo com o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, produzido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.


 Fonte: Colecionador de Conchas, 2010.

Fonte: Canadian Museum of Nature n.d.
Nome científico: Megalobulimus lopesi
Nome popular: Caracol-gigante-da-boracéia
Status de Ameaça:
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada.
(Machado et al, 2008.)
Nome científico: Myrmecophaga tridactyla
Nome popular: Tamanduá-bandeira
Status de Ameaça: Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada.
 
(Chiarello, 2008)

Caso a conservação da biodiversidade dessas áreas dependesse, entre outras ações, da proteção dessas espécies e fosse possível escolher apenas uma delas para atuar em prol da sua proteção, qual seria escolhido? Que critérios seriam utilizados?
Aprendemos que biodiversidade consiste, basicamente, na “diversidade de vida em uma dada área”, mas não é simples assim.  O conceito de biodiversidade é considerado por alguns autores como sendo de caráter pseudocognitivo, pois sua interpretação varia bastante e de acordo com o grupo que o interpreta. Para os taxonomistas, por exemplo, as espécies não tem o mesmo valor em função do grau de diferenciação entre os organismos, estimado pela utilização da hierarquia da classificação taxonômica que verifica a diversidade genética entre taxa. (Araújo, 1998). 
 
Já o conceito de biodiversidade, para os ecologistas, abrange questões como qualidade do ambiente e processos ecossistêmicos, considerando as espécies chave, as de maior ocorrência e sua função no ecossistema, por exemplo. Ainda, algumas espécies podem ser consideradas mais importantes que outras devido a sua maior ou menor contribuição para a biodiversidade de um ecossistema. (Christie et al, 2006) Mas, e para o público em geral?
 
Um estudo realizado por Christie (et al, 2006) em Cambridgeshire (Inglaterra) e Northumberland (Escócia) apontou resultados interessantes, que constatam diferenças entre os conceitos ecológicos e antropocêntricos, comentados a seguir.
Um dos fatores que dificultam o exercício da valoração da biodiversidade consiste justamente na má compreensão do público sobre este conceito, tornando necessária a utilização de linguagem apropriada e utilização de recursos audiovisuais para facilitar o entendimento.

Os critérios do publico não são considerados ecologicamente importantes para a conservação da biodiversidade, pois estão associados, especialmente, aos benefícios diretos que podem trazer para o publico, como por exemplo, os insumos para a indústria farmacêutica e os serviços ecossistêmicos que exercem impacto direto sobre os seres humanos e o seu bem-estar. Ainda, o carisma, a importância local e a familiaridade que o publico tem com as espécies, são outros critérios fortemente levados em consideração.
 
Entre os resultados da pesquisa, constatou-se que a há preocupação com o incremento da biodiversidade, mas não em como esse incremento pode ser alcançado. Neste sentido, grande parte dos entrevistados mostrou-se disposta a pagar taxas e impostos para essas melhorias e alguns poucos defendem que os valores devem ser pagos apenas por aqueles que degradam o meio ambiente.
 
Porém, um dos resultados mais interessantes é que o público entrevistado se mostrou disposto a apoiar as políticas que visam a recriação de ecossistemas e a recuperação de espécies raras, ao invés de apoiarem as políticas que objetivem retardar o tempo que leva para que espécies sejam localmente extintas, desacelerando o seu declínio. Tal postura pode ser fundamentada pelo principio da aversão à perda, onde as perdas são mais valorizadas que os ganhos, de acordo com Kahneman (et al 1991 apud Christie et al, 2006).


Referências Bibliográficas

Araújo M 1998, Avaliação da biodiversidade em conservação, Silva Lusitana, vol. 6, n°1, pp.19-40.

Canadian Museum of Nature n.d., Mammals – Giant Anteater, acessado em 20 de março de 2013, http://nature.ca/notebooks/english/giantant_p7.htm

Chiarello A G, Aguiar A M S, Cerqueira R, Melo, F R, Rodrigues F H G, Silva V M F 2008, ‘Mamíferos’, in Angelo Barbosa Monteiro Machado, Gláucia Moreira Drummond & Adriano Pereira Paglia (eds) Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, vol. 2, 1 ed., MMA, Brasilia.

Christie M, Hanley N, Warren J, Murfy K, Wright R & Hyde T 2006, Valuing the diversity of biodiversity, Ecological Economics, vol. 58, pp. 304– 317 

Colecionador de Conchas 2010, Megalobulimus lopesi, acessado em 20 de março de 2013, http://colecionadordeconchas.blogspot.com.br/2010/12/megalobulimus-lopesi.html

Machado A B M, Brescovit A D, Mielke O H, Casagrande M, Silveira F A, Ohlweiler F P, Zeppelini D, De Maria M & Wielovh A H 2008, ‘Invertebrados Terrestres’, in Angelo Barbosa Monteiro Machado, Gláucia Moreira Drummond & Adriano Pereira Paglia (eds) Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, vol. 1, 1° ed., MMA, Brasilia.