domingo, 12 de maio de 2013

Geoconservação

A conservação da natureza geralmente tem como foco principal a conservação da biodiversidade, porém, cabe lembrar que a biodiversidade é dependente da geodiversidade e por isso, para que a conservação da natureza seja bem sucedida é preciso integrar a bioconservação com a geoconservação (Sharples, 2002).
 A maior parte das ameaças à geodiversidade, assim como ocorre com a biodiversidade, está relacionada às atividades humanas, direta ou indiretamente, de forma que o desafio é alcançar o equilíbrio entre o uso e a conservação da geodiversidade. Entre essas ameaças, destacam-se: as atividades de exploração de recursos minerais; desenvolvimento de obras e estruturas; gestão das bacias hidrográficas; agricultura, florestação e desmatamento; atividades militares; atividades turísticas e recreativas; e a falta de conhecimento técnico e cientifico ao identificar e gerir áreas de interesse para a conservação (Brilha, 2005).
 
A geoconservação pode ser definida como as ações tomadas para conservar e melhorar as características geológicas e geomorfológicas, processos, sites e espécimes (Burek & Prosser, 2008). Dessa forma, a geoconservação reconhece a importância dos componentes não vivos do ambiente natural para a conservação da natureza, sinalizando a necessidade de uma gestão adequada para esses recursos (Sharples, 2002). Entretanto cabe compreender que o foco da geoconservação ultrapassa a proteção de funcionalidades aos seres humanos e inclui o objetivo de manter os processos ecológicos naturais, cuja abordagem está centrada em evitar ou minimizar a degradação de forma a proteger os valores naturais e intrínsecos dos recursos, não apenas os valores utilitários (Sharples, 2002).
 
O objetivo da geoconservação consiste na conservação e gestão do patrimônio geológico e dos processos naturais a ele associados (Pereira, Brilha & Pereira, 2008; Brilha, 2005). De acordo com Sharples (2002), o objetivo é de manter significativos exemplos representativos da geodiversidade, cuja manutenção dos processos naturais ocorra de forma a manter a sua capacidade de mudar e evoluir de forma natural (taxas naturais e magnitudes de mudança).
 
A plena integração da geodiversidade em amplos programas de conservação da natureza é premissa para a conservação dos valores e da sustentabilidade dos ambientes naturais (Sharples, 2002). De acordo com Burek & Prosser (2008), são exemplos de geoconservação as ações realizadas com o intuito de conservar, como uso de políticas e legislação relacionadas à conservação, ações voltadas ao aumento da consciência para gerar apoio, gestão local e auditorias de conservação. Ainda, ressalta que é vital reconhecer as contribuições locais nas origens da geoconservação. Outras questões, abordadas por Pereira, Brilha & Pereira (2008), é que os planos de ordenamento de território devem considerar cada vez mais os locais com valor geológico como potenciais recursos a promover e a necessidade de que cada cidadão defenda a integridade do patrimônio geológico, ou seja, do conjunto de geossítios inventariados e caracterizados numa dada área. Segundo Brilha (2005), a necessidade de conservar um geossítio é igual à soma do seu valor mais as ameaças que o mesmo enfrenta.
 
De acordo com Gray (2005), os diferentes elementos da geodiversidade precisam ser protegidos e gerenciados de diferentes maneiras, reforça que a geodiversidade deve ser respeitada dentro e fora das áreas protegidas e cita algumas abordagens para a geoconservação: conter fisicamente a aproximação de visitantes aos locais sensíveis; comprar locais com o objetivo de manter o seu valor de conservação da natureza; criação de área protegida com legislação específica; educação e documentação cientifica; elaborar, implementar e atualizar o plano de gestão da conservação, entre outros.
 
Referências Bibliográficas:
Brilha J 2005, Patrimônio Geológico e Conservação: A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica, Braga, 190p.
 
Burek C V & Prosser C D (eds) 2008, The History of Geoconservation, Geological Society, London, Special Publications, 300, 1–5.
 
Gray M 2005, Geodiversity and Geoconservation: What, Why, and How?  The George Wright Forum, Vol. 22, N° 03, pp.04-12.
 
Pereira D, Brilha J & Pereira P 2008, Geodiversidade – Valore e Usos, Universidade do Minho, Braga.
 
Sharples C 2002, Concepts and principles of geoconservation, Versão 3, Tasmanian Parks & Wildlife Service website.

 

 

 

terça-feira, 7 de maio de 2013

Geodiversidade - conceito e valores

O conceito de Geodiversidade é bastante recente: foi utilizado pela primeira vez em 1993 e é equivalente ao conceito de biodiversidade (Gray, 2008). Ainda que haja interpretações diferentes, cabe destacar a definição proposta por Roy of Society for Nature Conservation do Reino Unido: “A geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos, fenômenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra” (Brilha, 2005).

De acordo com CNU (2007), os geocientistas entendem que são os processos bióticos e abióticos que sustentam a evolução da vida. Santucci (2005) ressalta a importância que existe entre esses processos (e recursos) e afirma que há uma relação intrínseca entre ambos. As paisagens, as formas de relevo e os materiais proporcionam diferentes habitats com biodiversidade, e a biodiversidade do nosso planeta é em grande parte devido à diversidade do mundo geológico (Gray, 2005). Neste sentido, ao comparar diversos países, Pereira, Brilha & Pereira (2008) observaram que aqueles onde há elevada geodiversidade há também maior biodiversidade, concluindo que tanto a distribuição como a sobrevivência das espécies depende das condições físicas e químicas do ambiente que ocupam. Dessa forma, entende-se que as rochas constituem o substrato essencial para o desenvolvimento de uma variedade de seres vivos (Pereira D, Brilha J & Pereira P, 2008), sendo que o solo é o elo entre os mundos bióticos e abióticos e a ponte perfeita entre geodiversidade e biodiversidade (Santucci, 2005 e Brilha, 2005).
 
José Brilha (2005) afirma que a geodiversidade condiciona a biodiversidade e dá condições de sobrevivência às espécies. CNU (2007) explica que cinco das grandes extinções em massa e outras dez de menor dimensão que ocorreram durante a história da vida podem ser explicadas, de um modo geral, como resultado de alterações ambientais como: as alterações climáticas, o movimento das placas tectônicas, o vulcanismo a nível mundial, as variações no nível do mar, as alterações nos ciclos biogeoquímicos e cataclismos cíclicos por grandes asteroides ou cometas. Da mesma forma que a geodiversidade está intrinsecamente ligada à biodiversidade, também está relacionada à evolução da civilização. Ao longo do tempo, a humanidade dependeu (e ainda depende) de recursos geológicos: houve a Idade da Pedra, do Cobre, do Bronze, do Ferro, dependência das reservas de carvão durante a Revolução Industrial, dos combustíveis fósseis durante o século XX, e do silício, usado na composição de todos os dispositivos eletrônicos que as sociedades e pessoas utilizam atualmente (Pereira, Brilha & Pereira, 2008).

Quanto aos valores da geodiversidade, mais de 30 podem ser reconhecidos e classificados em cultural, estético, intrínseco, econômico, funcional e científico (Gray, 2008 apud Gray 2004). Já na visão de Sharples (2002), há três tipos básicos de valores: intrínseco, ecológico e humano.
 
O Valor Intrínseco, ou da existência, é aquele que reconhece o valor em si, independente da funcionalidade ao ser humano, extrapolando as preocupações éticas para além dos seres humanos e demais seres vivos. O Valor Ecológico configura-se na importância de algo ou processo na manutenção dos sistemas naturais e processos ecológicos. O Valor Humano (ou antropocêntrico) implica nos valores diretos aos seres humanos (Sharples, 2002). Por exemplo: comercialização de pedras preciosas, exploração de minerais, pesquisa científica e educação, locais inspiradores e “sagrados”, turismo, recreação, relação com a cultura, entre outros.
 
Para finalizar, cabe destacar que a maioria dos recursos que integram a geodiversidade são não renováveis e considerar a importância e a relação entre os componentes vivos e não vivos do nosso planeta podem ajudar a promover uma abordagem mais holística para a conservação da natureza (Gray, 2005).

 Referências Bibliográficas
Brilha J 2005, Patrimônio Geológico e Conservação: A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica, Braga, 190p.

Comissão Nacional da UNESCO (CNU) 2007, Terra e Vida - as origens da biodiversidade, Ciências da Terra para a Sociedade, Prospecto relativo a um tema - chave do Ano Internacional do Planeta Terra 2007 - 2009.

Gray M 2005, Geodiversity and Geoconservation: What, Why, and How?  The George Wright Forum, Vol. 22, N° 03, pp.04-12.

Gray M 2008, Geodiversity: developing the paradigm, Proceedings of the Geologists' Association, Vol. 119, Issues 3-4, pp. 287-298.

Pereira D, Brilha J & Pereira P 2008, Geodiversidade – Valore e Usos, Universidade do Minho, Braga.

Santucci V L  2005, Historical Perspectives on Biodiversity and Geodiversity The George Wright Forum, Vol. 22, N° 03, pp.29-34.

Sharples C 2002, Concepts and principles of geoconservation, Versão 3, Tasmanian Parks & Wildlife Service website.