O conceito de Geodiversidade é bastante recente: foi
utilizado pela primeira vez em 1993 e é equivalente ao conceito de
biodiversidade (Gray, 2008). Ainda que haja interpretações diferentes, cabe
destacar a definição proposta por Roy of Society for Nature Conservation do
Reino Unido: “A geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos,
fenômenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis,
solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra” (Brilha, 2005).
De acordo com CNU (2007), os geocientistas entendem que são
os processos bióticos e abióticos que sustentam a evolução da vida. Santucci
(2005) ressalta a importância que existe entre esses processos (e recursos) e
afirma que há uma relação intrínseca entre ambos. As paisagens, as formas de
relevo e os materiais proporcionam diferentes habitats com biodiversidade, e a biodiversidade
do nosso planeta é em grande parte devido à diversidade do mundo geológico (Gray,
2005). Neste sentido, ao comparar diversos países, Pereira, Brilha
& Pereira (2008)
observaram que aqueles onde há elevada geodiversidade há também maior
biodiversidade, concluindo que tanto a distribuição como a sobrevivência das
espécies depende das condições físicas e químicas do ambiente que ocupam. Dessa
forma, entende-se que as rochas constituem o substrato essencial para o
desenvolvimento de uma variedade de seres vivos (Pereira D, Brilha J & Pereira P, 2008), sendo que o solo é o elo entre os
mundos bióticos e abióticos e a ponte perfeita entre geodiversidade e biodiversidade
(Santucci, 2005 e Brilha, 2005).
José Brilha (2005) afirma que a geodiversidade condiciona a
biodiversidade e dá condições de sobrevivência às espécies. CNU (2007) explica que
cinco das grandes extinções em massa e outras dez de menor dimensão que
ocorreram durante a história da vida podem ser explicadas, de um modo geral,
como resultado de alterações ambientais como: as alterações climáticas, o
movimento das placas tectônicas, o vulcanismo a nível mundial, as variações no
nível do mar, as alterações nos ciclos biogeoquímicos e cataclismos cíclicos
por grandes asteroides ou cometas. Da mesma forma que a geodiversidade está
intrinsecamente ligada à biodiversidade, também está relacionada à evolução da
civilização. Ao longo do tempo, a humanidade dependeu (e ainda depende) de
recursos geológicos: houve a Idade da Pedra, do Cobre, do Bronze, do Ferro,
dependência das reservas de carvão durante a Revolução Industrial, dos combustíveis
fósseis durante o século XX, e do silício, usado na composição de todos os
dispositivos eletrônicos que as sociedades e pessoas utilizam atualmente (Pereira,
Brilha & Pereira, 2008).
Quanto aos valores da geodiversidade, mais de 30 podem ser
reconhecidos e classificados em cultural, estético, intrínseco, econômico,
funcional e científico (Gray, 2008 apud Gray 2004). Já na visão de Sharples
(2002), há três tipos básicos de valores: intrínseco, ecológico e humano.
O Valor Intrínseco, ou da existência, é aquele que reconhece
o valor em si, independente da funcionalidade ao ser humano, extrapolando as
preocupações éticas para além dos seres humanos e demais seres vivos. O Valor Ecológico
configura-se na importância de algo ou processo na manutenção dos sistemas
naturais e processos ecológicos. O Valor Humano (ou antropocêntrico) implica
nos valores diretos aos seres humanos (Sharples, 2002). Por exemplo:
comercialização de pedras preciosas, exploração de minerais, pesquisa científica
e educação, locais inspiradores e “sagrados”, turismo, recreação, relação com a
cultura, entre outros.
Para finalizar, cabe destacar que a maioria dos recursos que
integram a geodiversidade são não renováveis e considerar a importância e a
relação entre os componentes vivos e não vivos do nosso planeta podem ajudar a
promover uma abordagem mais holística para a conservação da natureza (Gray,
2005).
Comissão Nacional da UNESCO (CNU) 2007, Terra e Vida - as origens da biodiversidade, Ciências da Terra para a Sociedade, Prospecto relativo a um tema - chave do Ano Internacional do Planeta Terra 2007 - 2009.
Gray M 2005, Geodiversity and Geoconservation: What, Why, and How? The George Wright Forum, Vol. 22, N° 03, pp.04-12.
Gray M 2008, Geodiversity: developing the paradigm, Proceedings of the Geologists' Association, Vol. 119, Issues 3-4, pp. 287-298.
Pereira D, Brilha J & Pereira P 2008, Geodiversidade – Valore e Usos, Universidade do Minho, Braga.
Santucci V L 2005, Historical Perspectives on Biodiversity and Geodiversity The George Wright Forum, Vol. 22, N° 03, pp.29-34.
Sharples C 2002, Concepts and principles of geoconservation, Versão 3, Tasmanian Parks & Wildlife Service website.
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